Tânia: atriz, leal, questionadora, sincera, irônica, exigente, fácil, radical, sensível, dura, intensa, controladora, generosa, egoísta, protetora, desapegada, aberta, ermitã, sensata e aventureira. "Sou todas em Uma" BEM VINDOS!


Oficina de teatro com Tânia Cavalheiro

18 de mar. de 2011

Meu amicão preferido


“MEU ÚLTIMO AMOR”



Muitas pessoas dizem que cachorro é um “animal” de pouca personalidade, que é muito submisso, que da muito trabalho e tal...
Que “se morrer vai se sofrer muito, então melhor nem ter”...
Sou daquelas que prefere sofrer por haver amado!


Que AMOR não da trabalho?!
O convívio (com qualquer afeto) vai reforçando dia a dia a amizade, a lealdade...
O elo firme que se estreita mais e mais.


A dependência... Gosto dessa “dependência” que o afeto necessita.
Gosto de saber que sente minha falta e me espera.
Gosto de saber que dependo também de seu carinho e que o espero ansiosamente quando vai pro banho.


Tenho ciúmes se sai pra passear com outras pessoas!
Fico contando os minutos, pois egoísta e neuroticamente, acho que só eu o cuido direito.
E se outro cachorro o morder? E se machucar a pata num espinho?
E se não cuidarem direito e por descuido soltar a guia e ele atravessar a rua e for atropelado?! E se MORRE?!
Uma parte importante de mim vai morrer.
Morrer sofrendo muito.


Sempre fui cachorreira.
A alegria do abraço, a confiança absoluta, os papos que trocamos, as confidências seguras... Meu entender seu olhar e sacar na hora o que ele deseja; água com cubos de gelo coloridos? Mais comida? Quer um passeio fora de hora só porque deu vontade de ver o mundo mais de perto e quem sabe latir pra alguns parentes? Dou o que quiser.


Se adoece, meu emocional adoece junto.
Deixo de sair pra cuidar, medicar e vigiar.
Abro mão de festa, de amigos, de família.


Já tive vários cachorros que deixaram lembranças lindas... Cada um deixou lembranças lindas e inesquecíveis.


Passei anos sem cachorro, mas faz alguns anos, senti os braços vazios e meu coração mais frio e fui à caça. “Não passo mais um dia sem cachorro!”


E entrou em minha vida Euclides Bertoldo, em homenagem a Euclides da Cunha e Bertold Bretch.

Nome completo: EUCLIDES BERTOLDO CAVALHEIRO. Um maltês em forma de bola branca e peluda, que cabia na palma da mão. Tinha 45 dias.
Olhei quando me mostraram e desdenhei: “isso nem cachorro é”.
Ele caminhou titubeante ainda, caiu, rolou e claro, meu coração se enterneceu.
E na hora de escolher sua cama, seus pratos e brinquedos, me apaixonei.


Chegando em casa, Euclides suspirou como quem finalmente chega ao lar e dormiu placidamente dentro de minha pantufa.
Começou aí a mais bela amizade que já tive em minha vida com um ser “não humano”.


Canceriano de 25 de junho; sensíííível, temperamental, rancoroso (por pouco tempo), muito decidido sobre o que queria e sobre que não queria e de quem gostava ou não
Espaçoso, como bom canceriano.
Não sei se ele era “meu”, mas eu passei a ser dele.


Meses depois, veio Olívia, outro grande amor. Juntos, tiveram 4 filhos lindos!
Olivia se foi aos 6 anos de idade, vítima de epilepsia.
Como sofri!...Quando sofro, faço de conta que é um furúnculo: mergulho na minha dor e espremo até sangrar.


Meu amor com Euclides durou 10 maravilhosos anos.


Um dia acordei, fui fazer o primeiro dos muitos carinhos do dia e recuou a carinha. ESTRANHO!...Cheguei mais perto, deitou o rosto em minha mão, gemeu... me apavorei!


Nesse dia começou uma saga por vários veterinários e muitos exames.
Nenhum descobria o que meu filhote tinha...
Piorava a cada dia, negava passeio e até mamão, sua fruta preferida.
Dias bons, outros com sintomas de dor e eu na correria atrás do diagnóstico correto e da cura.
Certo dia, teve uma hemorragia nasal, deitado no meu pé, (como sempre) e aí meu pavor cresceu.
Eu sabia que ele tinha alguma dor e isso eu não podia suportar: a dor deveria ser em mim; não nele!


Depois de três meses de busca incansável, a moça que lhe dava banho achou uma bolinha no meio dos olhos.
A veterinária me sugeriu consultar um oncologista... Pavor... ISSO NÃO!


Feita a biópsia, foi constatado um tumor no osso do nariz.


- ‘Vamos operar hoje?
- Não há o que fazer.
- Dói? Sim; muito.
“Algo – qualquer coisa -temos que fazer”!
Ela foi muito querida, afetiva e sincera...
- "Tempo de vida?
- Máximo 3 meses"...
Saí de lá paralisada.
Não sei como dirigi até nossa casa...


Mais passeios, comidas que gostava e (parecia impossível) mais amor ainda do que antes. Ele adorava chocolate maio amargo, brócolis e bife cortado bem fininho. E eu dava tudo.


Com analgésicos, viveu mais 29 dias BEM.


Madrugada.
Acordo pra beber água, ele teve uma convulsão e nesse momento ficou cego.
Os analgésicos já não surtiam efeito?!
Liguei pra veterinária e decidi acabar com nosso sofrimento.
Não era justo eu querê-lo ao meu lado mais 15, 20 dias com ele sofrendo...


Às 17 horas do dia 17 de abril fechou os olhos pra sempre no meu colo.
Comendo chocolate meio amargo em quantidades que eu jamais permitiria.
Foi “rápido”. Adormeceu pra sempre no meu abraço.


O paletó do terno de meu filho Marcelo foi pro lixo.
Nenhuma lavanderia conseguiu limpar a lapela onde me agarrei depois.
Cavei seu túmulo com minhas mãos e o enterrei entre duas acácias num templo, envolto em meu lenço. Um que ele gostava de mordiscar... Afinal, tudo aqui era dele.


Passei 3 dias movida a pranto, whiskie e calmantes.
E jurei jamais voltar a ter cachorros. Cada canto da casa tinha sua marca, seu cheiro.
Eu ouvia seus sons. Seus passos atrás de mim.


Um ano depois, me deram uma poodle que “aceitei” por uma semana e depois a dei; senti que eu estava traindo Euclides.

Passou-se mais um tempo e adquiri (sob pressão) um lhasa. Fofo, vesgo, e com vitiligo.
Achei que ia me apaixonar... não consegui e busquei alguém que lhe dê o amor que merece.


Então meu coração mudou? Secou? Fechou?


Já dei e recebi tanto amor!... Pra que querer MAIS?
Meu coração está pra sempre ocupado e em paz, pleno e com maravilhosas lembranças.


Porquê escrevi isto?
Porque esta noite sonhei com ele. Estava deitado ao meu lado, sorrindo pra mim...
Finalmente estamos em PAZ.

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7 comentários:

  1. essas criaturinhas preenchem nossos dias, como seria interessante se pudéssemos conversar com elas, trocar ideias, impressões...

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  2. Amiga, são os MELHORES AMIGOS e confidentes mais leais, rsrsrsrs...
    Fico feliz que gostaste!
    BEIJÃO!!!

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  3. O que dizer?
    O que escrever? Como?
    Tu sabes do meu amor por essas coisas divinas... eles são mais gente que muitos que andam em cima de "duas patas" por aí...
    TE AMO

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  4. Mari; sei de TI e de teu AMOR por esse seres!
    Mais; tu acompanhaste de perto tudo isso...
    Sigo torcendo pelo Toby!!!
    TE AMO!

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  5. Nossa, Tânia, chorei lendo sobre seu Euclides Bertoldo...sei como é amar um ser"não humano"!!! e como dizia Schopenhauer "Quanto mais conheço a humanidade,mais gosto do meu cachorro"...Você tem a arte na veia:consegue se comuicar, expor seus sentimentos abertamente,e tão fácil que vivimos o seu mundo junto de você.Quero muito um dia que for a POA, assistir uma peça sua.Vou seguir seu blog,um abraço, Iris Mabel.

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  6. Minhas posses materiais são poucas e eu deixo tudo para você....
    Uma coleira mastigada em uma das extremidades, faltando dois botões, uma desajeitada cama de cachorro e uma vasilha de água que se encontra rachada na borda.
    Deixo para você a metade de uma bola de borracha, uma boneca rasgada que você vai encontrar debaixo da geladeira, um ratinho de borracha sem apito que está debaixo do fogão da cozinha e uma porção de ossos enterrados no canteiro de rosas e sob o assoalho da minha casinha.
    Além disso, eu deixo para você a memória, que aliás são muitas.
    Deixo para você a memória de dois enormes e meigos olhos, marrons, de uma caudinha curta e espetada, de um nariz molhado e de choradeira atrás da porta.
    Deixo para você uma mancha no tapete da sala de estar junto à janela, quando nas tardes de inverno eu me apropriava daquele lugar, como se fosse meu, e me enrolava feito uma bolinha para pegar um pouco de sol.
    Deixo para você um tapete esfarrapado em frente de sua cadeira preferida, o qual nunca foi consertado com o tipo de linha certo.... isso é verdade. Eu o mastiguei todinho, quando ainda tinha cinco meses de idade, lembra-se?
    Deixo-lhe como herança minha devoção, minha simpatia, meu apoio quando as coisas não iam bem, meus latidos quando você levantava a voz aborrecido... e minha frustração por você ter ralhado comigo.
    Eu nunca fui à igreja e nunca escutei um sermão. No entanto, mesmo sem haver falado sequer uma palavra em toda a minha vida, deixo para você o exemplo de paciência, amor e compreensão.
    Sua vida tem sido mais alegre, porque eu estive ao seu lado!

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