Indiscretamente, observo
as pessoas.
Na maioria das vezes,
nem sei que estou encarando e analisando.
Mas elas notam.
Quando elas se dão
conta que estão sendo analisadas, encaram de
volta, com aquele olhar de “o que foi?” desvio o olhar e consigo
disfarçar por alguns segundos... Para logo voltar a espiar.
Ontem acordei com vontade
de ser freira.
Mas freira má, manipuladora do mal, intrigueira, sabe?
Que vê maldade em tudo, que
enxerga abuso (onde existe apenas
vontade de ajudar) e sai por aí, sem o menor
pudor, espalhando que
"VIU" o abuso
acontecer...
Com requintes de detalhes, obviamente. Detalhes sórdidos.
Claro
que alguém será julgado e condenado injustamente e nesse
detalhe que “minha”
freira sente o prazer maior!
(Assista o filme "Dúvida"; brilhante!)
Semana passada quis
ser uma noviça rebelde, só que mais velha que
aquela que conhecemos do filme.
Minha noviça chegava numa casa suja, bagunçada e cheia
de
crianças famintas que nunca (NUNCA) tinham escutado música e
viviam sozinhas
num casarão tão sujo quanto elas.
Famintas, carentes e desconfiadas, tentavam
matá-la no começo
para depois...imagine os horrores que puder...
Vai, você pode!
Outro dia, sonhei que
era uma assassina em série, que
matava indiscriminadamente.
Para matar, subia num telhado e de lá
atirava
a esmo.
Matava inocentes com o maior prazer e se
masturbava quando lembrava o
sofrimento de suas vítimas e de
seus familiares.
Quando pensava na dor dessas
famílias, o seu gozo
era pleno.
Não era nenhum trauma de infância, não: só
loucura mesmo.
Hoje quero viver uma mulher
de meia idade recalcada, mal amada, que
faz de tudo para separar pessoas
felizes, que isso é uma afronta.
Precisa separá-las para não se sentir tão só.
A dor alheia a faz menos infeliz, entende?
Faz fofocas bem elaboradas, conta
mentiras e em seu rosto existe
tal verdade que ninguém desconfia.
Mente olhando
nos olhos, segurando
as mãos firmemente... À noite, sozinha em seu quarto
emprestado
por piedade, chora abraçada à foto do único homem que amou
e –
claro! - a rejeitou.
Amanhã sei que vou
querer ser uma prostituta velha, realizada e feliz
em sua carreira de mil
amigos conquistado ao longo anos de
confidências feitas nas camas de colchões
ralos, onde muitas vezes
sequer fez sexo pelo qual ela sempre recebeu seu
pagamento.
Posso ser uma
ninfomaníaca, uma mulher cheia de TOCS.
Ou uma guerrilheira. Uma favelada
paupérrima que vende os
melhores quindins do mundo para a melhor confeitaria da
cidade.
Quem sabe uma dona de casa certinha e castradora?
Ou uma musicista que
compõe a música mais bela de todos os tempos!
Ou um mendigo que declama poesias
de Vinícius...
Posso ser um palhaço, um bêbado,
É essa a beleza de
ser atriz! Tudo é possível!
Posso ser o que eu quiser, sem perder minha
essência.
Depois, não sem alguma sensação de perda, é só voltar a vestir a
minha pele e seguir sendo o que sou.
É por isso que invado
vidas.
Você pode ser o próximo.
Tânia Cavalheiro