FIQUEI ULTRAPASSADA?
Cheguei à casa de minha irmã e senti o aroma de pão caseiro
que se espalhava quentinho...
E foi nesse momento que senti o baque do tempo do que se
foi, do que éramos
e vivemos de bom.
Me acho uma mulher atual e quase moderna,
pois sou aprisionada em alguns valores antigos, dos quais não faço a menor
questão de me livrar.
E então descubro que o mundo mudou tanto que em certas
coisas, que em algumas,
não tenho a menor vontade de “evoluir” com ele.
Descubro que as pessoas não fazem mais pão em casa, que pena...
Me pego cheia
de saudade do tempo em que as famílias tomavam (todos juntos, nem
que fosse aos
sábados) café da tarde, com pão de meio quilo e manteiga (manteiga!) sem se
preocupar com o colesterol, o sal e as intolerâncias...
Descobri que tenho saudade do tempo que um homem ligava para
uma mulher, a convidava para jantar e depois dançar.
Ele ia buscá-la em casa;
pontualmente, que démodé sou!
Cheguei a
conhecer restaurante dançante, melhor ainda de tão ultrapassado!
O jantar - com
vinho -transcorria à meia luz, com velas nas mesas e tal...
Lá pelas tantas ele
a convidava para dançar e dançavam mesmo, até passos de dança arriscavam... Na
pista outros casais também dançavam e também namoravam romântica
e
discretamente. Tudo era mais conquistado, havia mais jogo de sedução de ambas
as partes!
Hoje se corre o risco de que toquem funk. Daí acabou a
festa, né?
Descobri que tenho saudade de morar numa casa com pátio, com
direito à árvore de amora pra se colher subindo nos galhos e sujar a roupa e
levar bronca da mãe, e no
outro dia fazer tudo de novo.
Deu saudade do
galinheiro e do cheiro de terra preta molhada quando chovia, que delícia... No
quintal tinha lugar pra brincar de esconde-esconde, de pegar e pra jogar
bolinha de gude!
CARTAS! Descobri que faz muito tempo que não mandamos
cartas.
Descobri que ríamos de qualquer bobagem, porque éramos muito
menos críticos que agora. Hoje passamos tanto tempo trabalhando, correndo atrás
da grana e buscando
ser felizes (JÁ!) e interagindo nas redes sociais, que não
temos mais tempo para
visitar, para cultivar amizades íntimas.
Falta tempo para
cultivar grandes amigos e afinal precisamos respeitar a privacidade uns dos
outros!
Não cabe na cabeça de ninguém ir visitar sem agendar bem antes...
São
tantos compromissos!
Na minha família ainda preservamos o hábito de almoçar todos
juntos aos domingos.
É sagrado, sabe? Família barulhenta, que come bem, não
interessa qual o cardápio.
O que importa é que estamos reunidos, rindo,
conversando, nos interrompendo, torcendo de verdade uns pelos outros e cada um
contando como foi sua semana.
Se alguém fica doente a ponto de ir pro hospital,
lá vai todo mundo, como as garças que não se separam nunca.
Os médicos levam
mais a sério quando veem um bando de gente junta olhando sérios para eles, qual
bando da máfia! Chega a ser muito engraçado, rsrsrs
É isso que faz família ser tão BOMBOM!